A dor no ombro é uma queixa frequente em atletas de beisebol pelo número expressivo de arremessos e rebatidas que se faz durante um treino ou uma partida. As causas podem ser várias, podendo ter relação com a posição em que se joga ou movimentos que realiza.
Como funciona a dor no ombro?
O ombro é uma articulação formada por 3 ossos principais: úmero, escápula e clavícula.
Para esse artigo vamos nos focar na articulação entre dois deles – o úmero e a escápula – que formam a articulação glenoumeral.
Articulação do ombro entre úmero (verde) e escápula (vermelho)
Ao redor desses dois ossos existem diversas estruturas – ligamentos, tendões e músculos – que ajudam tanto na mobilidade, quanto na estabilidade dessa articulação. Assim, torna-se possível realizar todos os movimentos que necessitamos no dia-a-dia.
O ombro é a articulação com a maior mobilidade de todo o corpo, e para que isso acontecer é necessário que todas as estruturas trabalhem com perfeição.
Desta forma, os músculos e os tendões ao redor do ombro são responsáveis pela movimentação do ombro, sendo os motores para o funcionamento da articulação.
Musculatura ao redor do ombro
Os ligamentos ligam o úmero à escápula com a função principal de ajudar na estabilidade durante os movimentos, fazendo com que os ossos não se movam fora dos trilhos.
E da onde surge a dor no ombro causada pelo beisebol?
As dores no ombro surgem por lesões nessas estruturas demonstradas acima, seja por uso excessivo, ou então por algum trauma específico ou algum movimento indevido.
Desta forma, alguns movimentos em especial aumentam a probabilidade dessas lesões ocorrerem.
Arremessador
O arremessador, ou “pitcher”, com certeza é o jogador com mais propensão a lesões no ombro por ser o jogador com mais treinamento de arremessos. São dois os principais momentos do arremesso onde podem ocorrer lesão:
- Na biomecânica do arremesso existe a fase do “late cocking” que seria a fase onde o braço está em extensão, abdução e rotação externa e o arremessador inicia o movimento de aceleração do braço. Nesse momento, todas as estruturas anteriores do ombro ficam sob tensão, gerando um alongamento ou lesão dessas estruturas, diminuindo então sua ação.
Posição de “late cocking” com abdução e rotação externa do ombro
- No movimento final do arremesso, ou a fase de desaceleração quando o arremessador está passando o braço na frente do corpo para finalizar seu arremesso. Nesse momento, ocorre a soltura da bola e a desaceleração do movimento, gerando tensão nos ligamentos e nos tendões ao redor do ombro.
Fase de desaceleração do arremesso
Rebatedor
O principal momento de stress no ombro do rebatedor é no final do movimento de rebatida, ou “swing”.
Ao finalizar o movimento, a mão que segura o taco deve desacelerar o movimento com o ombro em posição de abdução, extensão e rotação externa. Como já vimos, esta é uma posição que gera um aumento de tensão nas estruturas anteriores do ombro.
Essa força de desaceleração é acentuada ainda mais quando o rebatedor finaliza o movimento apenas com uma mão segurando o taco. Isso porque, assim ele perde o apoio do outro braço para auxiliar na desaceleração nesse momento.
Fase final da rebatida com aumento de tensão no ombro “não-dominante”.
Dor no Ombro e Beisebol: Alterações na anatomia e biomecânica
Existem duas situações típicas em jogadores que utilizam movimentos acima da cabeça como atletas de beisebol, vôlei, entre outros.
A primeira delas é a diminuição da rotação interna do ombro, que em inglês é denominada pela sigla GIRD (Glenohumeral Internal Rotation Déficit).
Isso ocorre pelo excesso de movimentos em abdução e rotação externa do ombro, o que leva a um alongamento ou distensão das estruturas que ficam na região anterior do ombro e uma contratura das estruturas que ficam na região posterior do ombro.
Por isso é comum vermos em atletas de beisebol uma rotação externa do ombro aumentada no ombro dominante, e associado a isso, uma rotação interna diminuída. Esse alteração leva a uma biomecânica patológica do ombro, fazendo com que ocorram as lesões que vamos discutir a seguir.
GIRD – Déficit de rotação interna importante do ombro direito
A segunda situação é o movimento não harmônico da escápula, chamada de SICK Scapula em inglês (Scapular Rotation Dysfunction).
A escápula é recoberta de vários músculos que atuam na sua mobilidade. Durante os movimentos repetitivos, alguns grupos musculares são mais utilizados, ficando mais predispostos a fraqueza e contraturas.
Isso faz com que ocorra um desbalanço muscular gerando um movimento não harmônico da escápula durante os movimentos do ombro, gerando lesões nas estruturas ao redor.
SICK – Mal posicionamento da escápula durante contração muscular
E quais são as possíveis lesões que causam dor no ombro praticando beisebol?
Lesão do Labrum
Umas das principais lesões que ocorrem no ombro é a lesão do labrum. O labrum é uma estrutura que fica ao redor da glenóide e é uma estrutura essencial para a estabilidade do ombro.
Na região superior do labrum se insere o tendão do bíceps, sendo uma área de tensão principalmente na fase de “late cocking” do arremesso, ou então, na fase final da rebatida.
Os principais sintomas desse tipo de lesão são dor na região anterior do ombro e sensação de instabilidade do ombro. Além disso, pode ocorrer o fenômeno do “braço morto” em que o arremessador sente que perde a potência e velocidade durante o arremesso.
Lesão do labrum superior com destacamento da glenoide
Lesão do Manguito Rotador
O manguito rotador é um conjunto de músculos que fica ao redor do ombro, gerando estabilidade e auxiliando na sua movimentação. Os músculos desse grupo são: supraespinhal, infraespinhal, redondo menor e subescapular.
Pelo alto número de movimentos com o ombro, e principalmente, pelo movimento de levantar o braço que gera um desgaste nesses tendões, é comum que os jogadores evoluam com tendinite do manguito rotador.
Uma tendinite é uma inflamação dos tendões, que ao longo do tempo, pode evoluir para uma lesão do tendão, que é o momento que esse tendão se solta do osso.
O quadro clínico nesse caso é relacionado a uma dor na movimentação, podendo haver dificuldade de realizar alguns movimentos, como levantar o braço, que dure alguns dias ou semanas. Caso esse quadro persista, o jogador pode sentir uma dor constante durante à prática esportiva e mesmo durante o repouso, principalmente na hora de dormir.
Lesão do manguito rotador durante a elevação do braço
Lesão do bíceps
O tendão do bíceps, como já vimos, se insere na região superior da glenoide junto ao labrum, passando pela região anterior do ombro.
Qualquer atleta que utiliza o membro superior está sujeito a uma tendinite desse tendão pela alta carga de movimentos em que ele é utilizado.
A dor geralmente é na região anterior do ombro, sendo normalmente menos incapacitante que as outras lesões citadas acima, porém tende a ocorrer associada à outras lesões no ombro.
Tendinite do bíceps na região anterior do ombro
Impacto interno
Como já falamos antes, a posição de “late cocking” é de grande importância para entender os mecanismos que geram lesões no ombro.
No caso do impacto interno, ao abduzir e rodar externo o ombro, a porção posterior da cabeça do úmero vai em direção a porção posterior e superior da glenóide. Isso pode levar a lesões do manguito rotador e do labrum glenoidal.
Esse movimento pode ser piorado ainda mais pela frouxidão das estruturas anterior do ombro que ocorre principalmente em arremessadores.
Tal impacto pode gerar dor, principalmente nesse momento de preparação do arremesso, além de poder gerar quadros clínicos associados a lesão do manguito rotador ou do labrum.
Impacto interno do ombro com lesão do manguito e do labrum
Instabilidade do ombro
Com o decorrer do tempo, os movimentos repetitivos vão gerando lesões no ombro por sobre uso.
Conforme vão ocorrendo lesões ou distensão de ligamentos e lesões no labrum, a relação da cabeça do úmero com a glenóide vai se tornando instável, com a cabeça do úmero se movimentando cada vez mais dentro da articulação.
Esse movimento patológico gera dor e sensação de instabilidade, com o jogador apresentando a sensação de que o ombro está saindo do lugar após alguns movimentos.
Os casos de instabilidade são as principais causas do “braço morto” e ocorrem principalmente após movimentos com alta velocidade. Esse quadro pode ser doloroso e gerar diminuição na velocidade do arremesso ou da rebatida, geralmente levando o jogador a ter uma diminuição importante da sua performance.
CC Sabathia após luxação do ombro em temporada 2019
E como podemos evitar essas lesões e a dor no ombro no beisebol?
O principal tratamento para qualquer patologia ortopédica é a prevenção. O ideal para qualquer atleta é que tenha uma prática saudável de seu esporte, sem interrupções durante sua jornada por dores ou lesões.
No beisebol, e em todos os esportes, o trabalho deve ser iniciado desde as categorias de base. É muito comum lesões em adolescentes que ainda nem iniciaram sua prática profissional, principalmente por vícios de movimentos que foram realizando desde crianças. Portanto é essencial que o trabalho de biomecânica e consciência corporal comece desde cedo.
Os treinadores devem se atentar a movimentos corretos, como por exemplo:
- Iniciar o movimento do arremesso pelas pernas e quadril, e não pelo tronco e ombros;
- Evitar que ocorra uma abertura precoce do tronco no momento de preparar a aceleração do movimento de arremesso;
- Evitar que o pé da frente não esteja na direção do receptor no momento do arremesso.
Correções de detalhes nos movimentos são essenciais para o aprendizado do arremesso
Essas questões de biomecânica, além de diversas outras, devem ser seguidamente observadas para que se aprenda o movimento correto desde criança.
Além disso, todo atleta deve ter uma rotina de fortalecimento e alongamento muscular, se possível auxiliado por algum profissional que compreenda as necessidades específicas do esporte.
Então, como conclusão…
O beisebol é um esporte excelente de ser praticado, porém como apresenta alguns movimentos específicos que são repetidos diversas vezes durante os treinos e jogos, devemos tomar alguns cuidados para que não haja lesões durante o tempo.
Caso tenha interesse em se aprofundar mais sobre alguma das lesões citadas no artigo, clique nos links abaixo específicos de cada patologia.
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